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Como lidar com as crianças e adolescentes durante a quarentena

Diante da crise pela qual estamos passando, vamos postar abaixo algumas reflexões feitas por Brasilda Rocha, Psicóloga Clínica com Mestrado em Educação e Coordenadora geral do Núcleo de Estudos Neo-Reichianos em São José do Rio Preto desde 1981.

HORA DE REASSEGURAR NOSSOS FILHOS

Brasilda Rocha

Esta crise global certamente testará nossos pontos fortes e evidenciará nossas vulnerabilidades. Para crianças e adolescentes, esse período terá um impacto irreversível no cérebro em desenvolvimento e na visão de mundo. À medida que passamos de funcionar com relativa segurança para moldar nossas vidas em torno de uma nova realidade assustadora com uma data de término incerta, temos uma grande oportunidade para promover coragem, criar resiliência, modelar a responsabilidade e o serviço da comunidade e atender às necessidades e desejos de nossos clientes, ou as necessidades dos outros.

O mundo já passou por várias experiencias de guerra e pestes, mas cada uma é unica em sua essência. Cada crise nos traz momentos únicos para reflexão. Este é um momento de “respirar”, de poder trazer o relaxamento ao seu lar, o silencio e o afeto. Neste momento nos deparamos com uma experiencia nova que precisamos ter consciência para aprendermos a lidar. É muito importante percebermos o que esta ocorrendo em nosso mundo interno. Se o que estamos vivenciando está ou não disfuncional com a realidade externa. Podemos apresentar: medo, agressividade, intensificação do vazio, indefinições, enfim, emoções que pertencem ao nosso mundo psíquico, e ainda precisamos elaborar para a nossa evolução. Estas emoções nos trazem comportamentos regressivos, como: isolamento, depressão, excesso na comida, ou drogas ilícitas, excesso de sensibilidade ou um bloqueio cognitivo, ocasionando comportamentos de paralisia.

Outro cuidado e autocuidado, podem coexistir e praticar esse equilíbrio, que nos dá a oportunidade de experimentar maneiras pelas quais o outro cuidado é de fato o autocuidado. Crescemos quando praticamos empatia e expandimos nossa consciência para as necessidades e sentimentos das pessoas ao nosso redor.

Esse desafio internacional nos oferece uma oportunidade de regredir ou evoluir. Como lidamos com este fato, que afeta e molda o cérebro das crianças e dos adultos, não seremos os mesmos depois desta fase. Assim, como depois que lemos um bom livro, ou assistimos um bom filme, ou trocamos nossos afetos, não seremos os mesmos. Ao decidirmos "o que fazer com isso", estamos traçando ativamente um caminho para o cérebro e um mundo psíquico em desenvolvimento.

Neste novo momento que estamos passando, é fundamental estruturar a programação diária e semanal das crianças, adolescentes e familiar como um todo. Estamos todos em aprendizagem nesta convivência próxima e retomando nossa apropriação, cada um de si mesmo.

Manter o possível de rotinas, será fundamental, para facilitar estabilidade e sua segurança, para que a criança possa dar continuidade ao seu desenvolvimento emocional, psíquico e intelectual. Enfim, o seu cérebro esta em desenvolvimento e é necessário amortecer o impacto de doenças que possam ser geradas pelo stress. Com isso temos percebido que, cada pessoa, exacerba mais seus traços ao longo deste tempo, sendo necessário estarmos atentos, para que possamos facilitar este processo de crescimento psíquico.


As crianças devem ser capacitadas solicitando delas suas idéias sobre como incorporar o básico nas práticas de saúde do cérebro, psíquico e físico. Esses eventos podem deixar as crianças se sentindo apropriadas e precisando de um senso de controle sobre suas vidas. Quanto mais eles participam, maior a probabilidade de cooperação e responsabilidade.

O estresse interfere na cura e recuperação, reduzindo o sistema imunológico. Arte, movimento, risadas e brincadeiras reduzem o estresse e fortalecem o nosso sistema imunológico! Crie tempo para “arte livre” e “jogo livre”. Atividades que a criança possa escolher sem instruções ou interferências dos adultos. Os adultos podem ajudar oferecendo materiais e deixando por conta da própria criança. Estes são momentos das crianças explorarem as brincadeiras e resolverem as soluções por conta própria. Os adultos muitas vezes atrapalham esse processo, querendo “ensinar” ou “ajudar”. Brincadeiras estruturadas e atividades conduzidas por adultos, (esportes, jogos tabuleiro, projetos de artes) podem promover a saúde da família e um momento que a inter-relação propicia esta proximidade, promovendo, para a criança, um espaço de descanso e segurança do estresse externo, bem como sua experiência com os pais, pode diminuir as preocupações da criança e criar tempo para a diversão e conexão com a família.

Brinque, ria, conecte-se com o seu prazer.

Grandes ou pequenos, todos precisam de espaço e graça neste momento de perturbação, desorganização, incerteza e ansiedade. As emoções são elevadas e haverá atrito e tensão dentro do sistema familiar. Uma transição suave ou um ajuste rápido durante este período seria anormal. A incerteza dá lugar à rigidez; a rigidez de uma pessoa aumentará a tensão de todos. Antecipe frustração, o conflito e priorize o tempo e espaço para ajustar as expectativas. A vida é diferente; neste momento, precisamos de flexibilidade e desapego, o que pode favorecer e proteger a saúde psicológica de sua família. Sem um equilíbrio entre as necessidades e desejos individuais e de toda a família, o interior pode se tornar tão estressante quanto o ambiente externo. Quando todos os membros trabalham para aceitar suas próprias necessidades e desejos, não podem ser atendidos sem compromisso e deferência ao “todo”. Neste momento de crise, podemos estabelecer um desafio, para um momento de transformação, em uma oportunidade de crescimento pessoal e familiar.

Ao implementarmos as melhores práticas, para nos protegermos e conter a propagação desse vírus, pode ser útil pensar em termos de proteção das crianças contra doenças físicas e os efeitos do estresse crônico. Ao definir as expectativas e a estrutura para o dia do seu filho em casa, peça que ele preencha suas idéias de como atender a cada um dos seguintes domínios de saúde física e psíquica: os dias não estruturados que virão podem dificultar a manutenção de sua rotina diária. Defina a mesma expectativa que você faria, em um dia escolar, para manter a rotina e os cuidados básicos. Isso deve incluir: levantar-se e vestir-se, começar o dia de aprendizado (“escola” continua sendo o seu trabalho diário). Para as crianças, os bons hábitos, mais tarde na vida, são melhores estabelecidos o mais cedo possível e, provavelmente, não ocorrerão se os pais não esperarem que eles os pratiquem.

ROTINA


Oportunidade: Rotinas com trabalho estruturado e diversão oferecem uma sensação de segurança, produtividade e previsibilidade. Estruture os dias da semana o mais próximo possível da semana escolar típica de seu filho. Crie uma agenda semanal apropriada para o desenvolvimento e centrada na criança para incluir:

• tempo de aprendizado

• horário das refeições

• tempo da família ou dos pais e filhos para check-in, interrogatório

• hora do sono

• tempo de aprendizado

• horário das refeições

• tempo da família ou dos pais e filhos para trocas, conversas e planejamento

• pausas cerebrais (solo, atividade silenciosa ou repouso)

• jogo ativo não estruturado ou tempo artístico (escolha infantil)

• tempo de jogo semi-estruturado fora (escolha por adultos) (ou seja, esporte, jogo com movimento, caminhada, corrida, ciclismo)

• transição tranquila e sem dispositivos eletrônicos para terminar o dia

• definir horários de dormir na semana escolar e nos finais de semana

Quando for fazer uma rotina, solicite as idéias de seu filho sobre essas atividades em cada domínio. Este é um momento para enfatizar que: as atividades que queremos realizar seguem as atividades que precisamos fazer. Isso promove um senso de responsabilidade, ética de trabalho, autodisciplina e a conquista do que queremos, fazendo o que precisamos fazer. Criando responsabilidade.

HIGIENE FÍSICA

Uma série de práticas realizadas para preservar a saúde. Siga todas as precauções específicas do CDC COVID-19, para incluir:

• Lavagem prolongada e frequente das mãos

• Desinfetante para as mãos, como defesa secundária, sendo a lavagem prolongada das mãos como principal.

• Lave o rosto, com água e sabão, durante o dia e após o contato com uma nova pessoa.

• Evite tocar seu rosto.

• Limite as superfícies, que possam ser tocadas fora de casa e lave as mãos, imediatamente, quando for inevitável.

• Banho ao acordar e dependendo do que faz, varias vezes ao dia.

• Escove os dentes após cada refeição.

• Evite áreas lotadas.

• Mantenha uma distância de, pelo menos, 1,40 m de outras pessoas fora de casa.

SONO

Priorize, uma boa qualidade do sono, com rotinas de hora de dormir "instaladas sem dispositivos eletrônicos".

O sono é a nossa melhor defesa contra o estresse crônico ou tóxico (saúde do cérebro) e toxinas ambientais (saúde do corpo). O sono contínuo e ininterrupto permite que o corpo e a mente sejam redefinidos e reabastecidos, para criar: uma reserva para o nosso sistema imunológico; combater infecções; processar e armazenar novas aprendizagens; processar e criar significado de eventos e conflitos psicológicos e liberar tensão. Durante períodos de grande estresse, pense no sono como um disjuntor e siga as horas recomendadas como se fossem "desligadas para reiniciar" as instruções da casa ou do computador.

Quaisquer que sejam as tensões ou emoções, que temos no início do sono, surgem conosco quando adormecemos, o que pode causar perturbações do sono ou pesadelos. Quando decidimos pela primeira vez (desligamos a iluminação, removemos ruídos e conversas (estímulos), estamos configurando o sono para uma redefinição completa e bem-sucedida. Meditação e música suave também podem acalmar o cérebro e o corpo durante essa transição de vigília e sono. Configure uma rotina projetada para ter calma, e não estresse, na redefinição noturna.

Estabeleça e imponha uma rotina de dormir para crianças e adolescentes que comece com uma atividade silenciosa. Defina a luzes a serem apagadas e dispositivos fora do quarto de dormir. Os adolescentes precisam tanto de sono quanto as crianças mais novas; o ciclo sono-vigília é diferente (hora de dormir mais tarde; hora de acordar mais tarde), mas uma rotina e um horário de sono consistentes são igualmente importantes. As diretrizes abaixo são do Centers for Disease Control and Prevention (CDC).


IDADE HORAS

Crianças pequenas 11-14

Pré-escolar 10-13

Idade escolar (6-12 anos) 9-12

Adolescentes 8-10

Adultos +7

TELA

As crianças mais velhas desejam mais tempo na tela e ficam empolgadas com a oportunidade de passar mais tempo fazendo as coisas de que gostam. Tente relaxar as “regras” do tempo na tela para permitir que as crianças façam mais do que gostam, combatendo o estresse em que estão. Embora todos estejamos cientes dos riscos de "tempo demais" na tela, diminuir as restrições de tempo faz sentido nessas circunstâncias.

Você pode fortalecer seu relacionamento 'fazendo' tanto quanto conversando. Mostre interesse em seus jogos favoritos e peça que eles mostrem o que eles gostam nesse jogo ou que mostrem como jogar. Eles apenas podem convidá-lo para o mundo do jogo se tiverem certeza de que deseja entrar apenas para ver o que lhes interessa e aproveitar o que eles gostam, em vez de criticar ou julgar a atividade improdutiva.

Assim como os adultos, as crianças precisam de algo próprio durante o dia de "trabalho / escola".


RELACIONAMENTO SOCIAL


Espere que crianças, mais velhas e adolescentes, priorizem o relacionamento com os amigos e se sintam ansiosos para se conectar com os colegas, de alguma maneira e, com frequência. Eles são mais propensos a investir no tempo da família quando seu mundo social é mantido. Lembre-se, eles precisam de apoio de colegas tanto quanto nós. À medida que as crianças crescem, os pais são recursos e protetores, enquanto os amigos se tornam cada vez mais uma vida emocional. Sua urgência expressa em fazê-lo é mais uma necessidade de desenvolvimento do que um desejo.

Os adolescentes nem sempre rejeitam ou evitam a conexão familiar; eles são biológicamente orientados a se prepararem para deixar o lar e a família para iniciar a vida adulta. Eles precisam de proteção durante essa transição, mas pensam na urgência (e em todas as maneiras desafiadoras em que a expressam!), como preparação para estar por conta própria.

Durante esse período, de medo e incerteza, essa necessidade será satisfeita ao se conectar ao mundo de seus pares com um dispositivo. Eles precisam de limites e pausas para que, haja tempo suficiente, para outras necessidades de saúde do cérebro e do corpo e começam a praticar o equilíbrio.

PARA OS PAIS

Oportunidade: pratique a distinção entre opiniões desinformadas e fontes de informação especializadas.

Limite e filtre, informações para a idade de desenvolvimento das crianças e dentro de sua capacidade de lidar com situações geradoras de ansiedade. Os governos locais e estaduais, bem como os sites de informações do CDC e do NIH, são as melhores fontes de status e orientação. No mês passado, notícias falsas eram irritantes. Este mês, notícias falsas são potencialmente letais.

Dado o clima nacional e político, esta crise é uma excelente oportunidade para ensinar pensamento crítico e avaliar se as informações que obtemos são motivadas por algo que não seja a verdade. Crianças e adolescentes mais velhos, podem preferir colegas ou mídias sociais como fontes primárias, portanto, é preciso que os pais, forneçam informações precisas de especialistas adultos. No entanto, as notícias podem ser esmagadoras e assustadoras para as crianças.

Limite as atualizações a uma visão geral dos riscos e precauções. E um resumo mais breve sobre as maneiras pelas quais estamos nos ajustando e as maneiras, pelas quais, nossa comunidade está trabalhando duro para ajudar e nos proteger.

Guie as crianças a encontrar uma fonte, autorizada, baseada na ciência e, em um modelo de verificação de fatos. Informe, brevemente, e siga para o presente "mundo aqui-agora, seguro e previsível" da criança e da família.


INTERAÇÃO EMOCIONAL


Oportunidade: Meus pais podem me ouvir ativamente, entender meus sentimentos e necessidades também são importantes.

As crianças têm uma perspectiva única e não podem compartilhar sua interpretação do mundo ao seu redor, nem suas curiosidades ou medos, quando os adultos parecerem indisponíveis ou desinteressados. Os adultos muitas vezes esperam que as crianças se inclinem e as usem como um recurso. Enquanto as crianças esperam a atenção total seguida por um convite direto e uma atmosfera que valoriza sua experiência emocional.

Os eventos atuais e os medos coletivos, podem ser usados como uma oportunidade para adiar conselhos ou "momentos de ensino" para primeiro ouvir e esperar para fazer uma pergunta. Quanto mais ouvimos sem correção, maior a probabilidade de eles se apoiarem agora e no futuro. Assim como os adultos, as crianças precisam sentir-se ouvidas e compreendidas, para que a orientação do adulto seja específica para elas e informada por suas necessidades e experiência emocional.

Quando esperamos, eles esperam. Quando conversamos antes de ouvir, eles se desligam e se inclinam.

RELACIONAR SOCIALMENTE COM A DISTÂNCIA FÍSICA

Oportunidade: Somos mais saudáveis, mais seguros e mais felizes quando participamos de um relacionamento.

Distanciar-se fisicamente e conectar-se socialmente são prioridades simultâneas, para proteger a saúde física e emocional e amortecerão o impacto do estresse crônico. As mídias sociais monitoradas e aprovadas pelos pais são ferramentas que, podem ajudar crianças e adolescentes mais velhos, a manter alguma adequação à realidade. A conexão entre pares é uma rotina diária importante. Assim, como os adultos, os amigos são apoios e seu mundo precisa permanecer o mesmo possível.


PAIS E/OU CUIDADOR


As crianças não vão passar por isso sem você. Então, você precisará fazer muitas pequenas interrupções, no seu cérebro e no seu corpo, para cuidar de si mesmo. Estabeleça tempo de inatividade ou silêncio para seus filhos e, modele o seu cérebro fazendo o mesmo.

Ao modelar quebras de estresse ou quebras de relacionamento, para se reagrupar, mesmo que por breves períodos de descanso ou silêncio, seu cérebro pode dar espaço para lidar com as grandes e pequenas maneiras pelas quais crianças e adolescentes expressam suas necessidades e compartilham ou mostram suas frustrações!

Toda doença esta ligada ao bloqueio de uma energia, e esta energia, nos traz um bloqueio na respiração. Precisamos desta interiorização para aprendermos o que precisamos liberar para que possamos evoluir.


Vamos respirar, profundamente. estamos muito bloqueados. Nunca tivemos tantos suicidios em adolescentes, crianças passando por comportamentos impulsivos e suicidas, e tantas pessoas blindadas em seu mundo psíquico. Precisamos sair da época do “tanto faz”, precisamos nos ligar ao “desejo”. Nunca tivemos tanta liberação sexual e tanto embotamento afetivo. É necessario de precisarmos ter consciencia de que, todos nós, estamos precisando deste processo de higienização física, psiquica e social, para que possamos, realmente, deixar desabrochar o amor.

Estamos precisando nos religar, ter fé e amor, que só podem ser construídos nos nossos relacionamentos.

CUIDE BEM UM DO OUTRO E DE SI MESMO. O VÍRUS NÃO É NADA, O TERRENO É TUDO”

(PASTEUR)

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